quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Minha família grande.



Marcio! saúde sua alma portuguesa há quantos tesouros de séculos de Europa
 e mais tantos de balanço do mar?
 Visite a alma daqueles que venceram o mar, daqueles que tiraram dos deuses o Mar.
Saúde a congregação do branco e preto que houve nas franjas da colônia.
Pois que tapete que pisava o senhor senão no de fios brancos e negros.
Visite o sangue grosso que te pinta a cara de vermelhidão,
Te fazendo parecer ébrio mesmo quando dá risada por nada. Pra rir mesmo.

Visite a casa da infância,
E a casa das tias, e dos pratos com batata e frango,
E depois com sorte você lembra da trovas do Vô

                        “uma coisa eu te digo:
                        Uma coisa vou te dizer...”

Onde enterrou o umbigo
era o mundo pra você.

                        “é hora de vortá de
                        onde amar, não mais podé”

A prateleira, sem prata nenhuma, mas madeira nobre, que tinha a tia
Como era mesmo o cheiro dela?

                        Madeira de lei preta
                        pinos (igual a floresta de Telêmaco?)
                        canela bosta é que não era...

                        os bordados na toalha de mesa
                        os bordados encima do bule
                        bule de café com leite quente
                        no copo até a tampa.

Isso é trova
Ou só estrova?

                        - Não tio Acir! Isso é poema
                        To bulando com poema agora

Não bule Marcio!
Ou então refugue a forma e
Capricha só no sentimento.

Estou longe de Curiúva, longe de Curitiba. Estou bem do lado de casa mas,
 da casa fechada na nostalgia, difícil entrar!
Quase acordo minha mãe no quarto dela pra perguntar como era
Mesmo
O barulho do vô quando ficava quieto? Como era o vô quieto?
Pois na hora tiraram as crianças do quarto, não vi o vô ficar quieto.

Nem vi ele no caixão também
Fecharam ele antes de eu ter coragem pra olhar
E o vô morreu mesmo, foi enterrado duas vezes..

Visite Marcio, a memória do avô que de tão português

                        Era bem capaz de rir dessa coisa que aconteceu no seu enterro
                        Era bem capaz de rir de piada de português também.

O vô era pandego de riso frouxo
Mas froxo não era, era respeitador da paz

            Paz de Deus
            Que ele dava até mesmo pro tio
            Não crente, o único.

Crente não vai à praia
Mas nos íamos.
Crente não tem TV
Nos assistia dos outro, na casa deles.
Crente saúda com beijo.
Nos não! só na saída do culto.

            Culto que o tio
            Daquele jeito baixo e alegrinho
            Preside. Resiste.

Desse tempo lembra que, aqueles que não era do nosso jeito não ficavam?
Você lembra que até tinha uns primos ou tio que era diferente
Então tinha que tomar cuidado com as brincadeiras

Mas!
Neto e vô não se encontram de novo?

                                   “que moço feio
                                   nariz vermeio
                                   boca de cuelho
                                   carcanhá de racho
                                   onde passa o rastro
                                   não deixa orvalho. “

mãe: apague essa luz! Escreve isso amanhã meu filho.

                                   “que moço rico
                                   terno vermelho
                                   fala de homem
                                   olha no espelho
                                   e ri de si
                                   mas, de escanteio.”

Mãe: vai dormir!

O mar trouxe o navio
O navio trouxe os negros
Os negros a força
Os portugueses a culpa.

Culpa no toque da viola:
som com saudade
Culpa com Jesus, mar, Sebastião el Rei.
A culpa no gosto de comer repolho no frio
E pinhão no inverno,
E esse menino, fraco, será que chega no próximo pinhão?

Os dias contados nos fatos

No ano do teu casamento nos fomo pra...
No dia que a Delia caiu doente...
No ano que o pai caiu doente...
No ano que o pai do pai morreu...
... longe do Lageado.
Morreu. Falando bem o português claro!

Sempre tinha caixão na casa da tia. Ela vendia.
Mas caixão pros nossos foi novidade
O tio, o avô, o avô do outro lado....
O Douglas.

            Nunca vai existir nenhum menino igual ao Douglas.
            Nunca.

Funeral em casa, somos honrados né vó?
Dois meses depois era só risada, na mesma garagem.

A gente trata bem o defunto, ficamos a noite toda
Mesmo sabendo que ele não devolve o favor.
Graças a Deus!

                                                           A gente era assim
 Mas a mãe continua do mesmo jeito.

Marcio Campos


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.