Marcio! saúde sua alma
portuguesa há quantos tesouros de séculos de Europa
e mais tantos de balanço do mar?
Visite a alma daqueles que venceram o mar,
daqueles que tiraram dos deuses o Mar.
Saúde a congregação do branco
e preto que houve nas franjas da colônia.
Pois que tapete que pisava o
senhor senão no de fios brancos e negros.
Visite o sangue grosso que te
pinta a cara de vermelhidão,
Te fazendo parecer ébrio
mesmo quando dá risada por nada. Pra rir mesmo.
Visite a casa da infância,
E a casa das tias, e dos
pratos com batata e frango,
E depois com sorte você
lembra da trovas do Vô
“uma coisa eu te digo:
Uma coisa vou te dizer...”
Onde enterrou o umbigo
era o mundo pra você.
“é hora de vortá de
onde amar, não mais podé”
A prateleira, sem prata
nenhuma, mas madeira nobre, que tinha a tia
Como era mesmo o cheiro dela?
Madeira de lei preta
pinos (igual a floresta de Telêmaco?)
canela bosta é que não era...
os bordados na toalha de mesa
os bordados encima do bule
bule de café com leite quente
no copo até a tampa.
Isso é trova
Ou só estrova?
- Não tio Acir! Isso é poema
To bulando com poema agora
Não bule Marcio!
Ou então refugue a forma e
Capricha só no sentimento.
Estou longe de Curiúva, longe
de Curitiba. Estou bem do lado de casa mas,
da casa fechada na nostalgia, difícil entrar!
Quase acordo minha mãe no
quarto dela pra perguntar como era
Mesmo
O barulho do vô quando ficava
quieto? Como era o vô quieto?
Pois na hora tiraram as
crianças do quarto, não vi o vô ficar quieto.
Nem vi ele no caixão também
Fecharam ele antes de eu ter
coragem pra olhar
E o vô morreu mesmo, foi
enterrado duas vezes..
Visite Marcio, a memória do
avô que de tão português
Era bem capaz de rir dessa coisa que
aconteceu no seu enterro
Era bem capaz de rir de piada de português
também.
O vô era pandego de riso
frouxo
Mas froxo não era, era
respeitador da paz
Paz de Deus
Que ele dava até mesmo pro tio
Não crente, o único.
Crente não vai à praia
Mas nos íamos.
Crente não tem TV
Nos assistia dos outro, na
casa deles.
Crente saúda com beijo.
Nos não! só na saída do
culto.
Culto que o tio
Daquele jeito baixo e alegrinho
Preside. Resiste.
Desse tempo lembra que,
aqueles que não era do nosso jeito não ficavam?
Você lembra que até tinha uns
primos ou tio que era diferente
Então tinha que tomar cuidado
com as brincadeiras
Mas!
Neto e vô não se encontram de
novo?
“que moço feio
nariz vermeio
boca de cuelho
carcanhá de racho
onde passa o rastro
não deixa orvalho. “
mãe: apague essa luz! Escreve
isso amanhã meu filho.
“que moço rico
terno vermelho
fala de homem
olha no espelho
e ri de si
mas, de escanteio.”
Mãe: vai dormir!
O mar trouxe o navio
O navio trouxe os negros
Os negros a força
Os portugueses a culpa.
Culpa no toque da viola:
som com saudade
Culpa com Jesus, mar,
Sebastião el Rei.
A culpa no gosto de comer
repolho no frio
E pinhão no inverno,
E esse menino, fraco, será
que chega no próximo pinhão?
Os dias contados nos fatos
No ano do teu casamento nos
fomo pra...
No dia que a Delia caiu
doente...
No ano que o pai caiu
doente...
No ano que o pai do pai
morreu...
... longe do Lageado.
Morreu. Falando bem o
português claro!
Sempre tinha caixão na casa
da tia. Ela vendia.
Mas caixão pros nossos foi
novidade
O tio, o avô, o avô do outro
lado....
O Douglas.
Nunca vai existir nenhum menino igual ao Douglas.
Nunca.
Funeral em casa, somos
honrados né vó?
Dois meses depois era só
risada, na mesma garagem.
A gente trata bem o defunto,
ficamos a noite toda
Mesmo sabendo que ele não
devolve o favor.
Graças a Deus!
A gente
era assim
Mas a mãe continua do mesmo jeito.
Marcio Campos