
Vez ou outra alguém me questiona qual é minha religião. Algumas
vezes dou-lhe uma resposta medíocre e fácil, assim com alguém que indica um
caminho pra um desorientado, um caminho rápido e ruim. Outras vezes, sou
sincero e explico mais detalhadamente, ainda que - novamente a metáfora - desorientamo-nos ambos
em explanações e possibilidades.
O caminho rápido e fácil é no fundo uma mentira confortável:
sou ateu. Simples, Deus não existe, o mundo é, e continuará sendo e eu estou muitíssimo
feliz com os meus anos de vida até que, findando-os apodreça-me na terra do cemitério.
Numa construção lógica e mecânica, bem ao gosto moderno, cujo único e raso valor
é valorizar o hoje.
No caminho mais demorado, cuja paisagem é mais bonita, ou árida
sublime e terrível, a resposta é: não sei. Não sei se Deus existe, se é verdade tudo aquilo que Paulo, Pascal e
meu Pai falaram. Não sei se milagres e santos e catarses são manifestações d’Ele.
Porem, esse caminho, ladeado pela duvida, não passa nem perto de nenhuma
igreja. Acho-as chatas na sua essência, ou seja, um alguém que pensa deter o poder de falar como eu devo viver.
Nesse caminho existem alguns andarilhos: um velho e manso,
com um olhar profundo e doce que num murmúrio sutil me disse “se Deus não existe
tudo é permitido” (Dostoievski). Depois de ouvir isso ainda pude dar uma dezena
de passos antes paralisar-me, olhei para traz e o velhinho seguia sem nada
dizer.... Que teria visto esse velho? Quão mais profundo foi o seu olhar sobre
o mundo-sem-deus para inferir tão dura
sentença? E qual seria essas coisas que ainda não são permitidas, mas, que poderiam
compor o todo? A cada pergunta, mais
distante ficava eu da resposta.
O outro andarilho é jovem e sanguíneo: Nietzsche. Que numa
dessas caminhadas, olhou as pedras do caminho e disse que elas, e ele, estariam
sempre retornando. Numa racionalidade trágica, quase um Prometeu (cuja condenação
é ferido, sarar-se e tornar à ser ferido) ou um Sísifo (e sua pedra, vendo-a
rolar do cume ao pé da montanha, para
tornar a carrega-la ao topo). Pena esse moço ter emudecido tão cedo, sem nos
dizer a extensão desse “eterno retorno”, sem objetivos, sem liberdade, apenas
necessidade e, para alguns, amor ao destino.
Há ainda alguns outros passantes, todos com alguma nova
indicação de onde encontrar a resposta pra questão Deus, ou parar de perguntar.
Alguns embelezam o caminho (Boff, T. D’avila) ou outros atrapalham a passagem
(Malafaia, Valdomiro). Caminho apesar de todos eles, quem caminha constrói o
caminho... e sobre tudo isso um céu em silencio.
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